Nelson Mandela e seu legado na África do Sul

A reportagem indicada relata as condições de Nelson Mandela pouco antes da sua morte em 05 de dezembro de 2013. Na reportagem é descrito como Mandela é adorado, lembrado pelas suas conquistas e constante batalha ao apartheid. Por isso, a piora da sua saúde naquele momento causou comoção nos sul-africanos.
Antes de prosseguir, vamos entender a historia da África do Sul e o que foi o apartheid.
Cronologia da África do Sul:

·         1488 - o navegador português Bartolomeu Dias passa pelo Cabo da Boa Esperança e passa a usar a Ilha Robben como feitoria para o caminho das Índias.

·         1652 - Jan van Riebeeck, administrador holandês da Companhia Holandesa das Índias Orientais cria a Colônia Holandesa do Cabo.

·         1795 - a Colônia Holandesa do Cabo é ocupada pelos ingleses, após Napoleão ter conquistado províncias holandesas.

·         1899 a 1902 - ocorre a Guerra dos Boers em que os ingleses, interessados nas minas de diamante da região, enfrentam colonos holandeses e franceses da região. Vencedores, os ingleses passam a dominar grande parte da região.

Século XX

·         - 1910 - os ingleses fundam a União da África do Sul como domínio do Império Britânico. Tornam a língua inglesa em oficial da região e os negros ficam sem direitos políticos e sociais.

·         - 1948 - criada a estrutura política, social e econômica do Apartheid (sistema legalizado que discriminava racialmente os negros e garantia o domínio da minoria branca na região).

·         - 1961 - a União da África do Sul conquista a independência da Inglaterra, formando a República da África do Sul.

·         - 1994 - fim do apartheid com eleições livres em 27 de abril. Nelson Mandela é eleito presidente da África do Sul.



MAPA DA ÀFRICA DO SUL

A África do Sul viveu uma relação peculiar entre poder, terra e trabalho. O poder colonial no país se deu basicamente de três maneiras. Primeiramente, criou estruturas políticas e econômicas que permitiram a superioridade dos colonizadores em relação às populações nativas. Em segundo lugar, os colonizadores restringiram o acesso desses grupos à terra, à água e ao gado. Por fim, os diversos grupos nativos e, posteriormente, também estrangeiros, foram transformados em força de trabalho. Esses fatores regeram o colonialismo na África do Sul da metade do século XVII até o fim do século XX. Assim, o poder político, econômico e militar da minoria branca determinou o destino da sociedade sulafricana por quase 350 anos.
A economia sul-africana foi sustentada pela escravidão e servidão por 250 anos e pela discriminação e exploração por outros 100 anos. Os colonizadores holandeses instituíram um sistema mercantil entre os séculos XVII e XVIII, e os britânicos o sistema capitalista no século XIX. O novo sistema introduzido pelos britânicos destruiu as bases do sistema mercantil e os tradicionais padrões dos colonizadores boers. Com a descoberta de ouro (1866) e de diamantes (1867), o colonialismo britânico passou a ser mais agressivo e abrangente.
A dominação britânica foi sucedida por uma espécie de “colonialismo interno” com o controle político dos afrikaners, que criou um sistema de opressão institucionalizada contra a maioria negra e, em menor medida, mestiça e asiática, que foi tolerada pelo Ocidente durante a Guerra Fria. Dezesseis anos após a transição democrática na África do Sul, o mais importante desafio ainda é o aprimoramento do frágil sistema democrático sul-africano para que governo e sociedade possam agir de maneira efetiva contra os resquícios do
Apartheid.

O que foi o apartheid?

O termo apartheid se refere a uma política racial implantada na África do Sul. De acordo com esse regime, a minoria branca, os únicos com direito a voto, detinha todo poder político e econômico no país, enquanto à imensa maioria negra restava a obrigação de obedecer rigorosamente à legislação separatista.

A política de segregação racial foi oficializada em 1948, com a chegada do Novo Partido Nacional (NNP) ao poder. O apartheid não permitia o acesso dos negros às urnas e os proibia de adquirir terras na maior parte do país, obrigando-os a viver em zonas residenciais segregadas, uma espécie de confinamento geográfico. Casamentos e relações sexuais entre pessoas de diferentes etnias também eram proibidos.

A oposição ao apartheid teve início de forma mais intensa na década de 1950, quando o Congresso Nacional Africano (CNA), organização negra criada em 1912, lançou uma desobediência civil. Em 1960, a polícia matou 67 negros que participavam de uma manifestação. O Massacre de Sharpeville, como ficou conhecido, provocou protestos em diversas partes do mundo. Como consequência, a CNA foi declarada ilegal e seu líder, Nelson Mandela, foi preso em 1962 e condenado à prisão perpétua.





Guerra dos Bôeres

Fazendeiros holandeses foram viver na região sul da África do Sul, a partir do século XVII. Usavam mão-de-obra escrava da região. No começo do século XIX, os britânicos dominaram a região, forçando os holandeses a migrarem para o interior.
Na região interior da África do Sul, os fazendeiros holandeses fundaram duas repúblicas livres: Orange e Transvaal. Enquanto isso, os ingleses se concentraram em suas colônias na região litorânea do sul da África (Colônia do Cabo).
Na segunda metade do século XIX, os bôeres encontram minas de ouro e diamantes em áreas de suas repúblicas. A partir de então, estrangeiros (principalmente súditos britânicos) partiram para o interior para explorar estas minas em territórios dominados pelos bôeres. Porém, muitos destes estrangeiros foram impedidos de praticar a mineração nestas terras holandesas.
O governo britânico passou então a apoiar os ingleses que se dirigiam à região mineradora, fato que provocou revolta nos bôeres. Em represália, no final de 1899, os bôeres passaram a atacar as colônias britânicas, dando início à guerra.
 Com um exército maior e com recursos bélicos mais avançados, os ingleses derrotaram os holandeses.
A Guerra terminou em 31 de maio de 1902, com a derrota dos bôeres e a assinatura do Tratado de Paz de Vereeniging.

A guerra Bôer foi a maior de todas as guerras coloniais travadas na era imperialista moderna. Durou mais de dois anos e meio (11 de outubro de 1899 a 31 de maio de 1902).
A Grã-Bretanha forneceu aproximadamente meio milhão de soldados, dos quais 22 mil foram enterrados na África do Sul. O número total de perdas britânicas –mortos, feridos e desaparecidos – foi de mais de 100 mil. Os próprios bôeres mobilizaram quase 100 mil homens. Perderam mais de sete mil combatentes e quase 30 mil pessoas nos campos de concentração. Um número não especificados de africanos lutou dos dois lados. Não se registram suas perdas, mas provavelmente atingiram dezenas de milhares. (WESSELING, H.L. Dividir para dominar: a partilha da África, 1880-1914. São Paulo; Rio de Janeiro: Revan: Ed. da UFRJ, 1998, p. 359)
Trincheira na Guerra dos Bôeres

Soldados Bôeres


NELSON MANDELA (1918-2013)

Nasceu em 18 de julho de 1918 na cidade de Qunu (África do Sul). Mandela, formado em direito, foi presidente da África do Sul entre os anos de 1994 e 1999.
Mandela começou sua luta contra o regime do apartheid. No ano de 1942, entrou efetivamente para a oposição, ingressando no Congresso Nacional Africano (movimento contra o apartheid). Em 1944, participou da fundação, junto com Oliver Tambo e Walter Sisulu, da Liga Jovem do CNA.
Durante toda a década de 1950, Nelson Mandela foi um dos principais membros do movimento anti-apartheid. Participou da divulgação da “Carta da Liberdade”, em 1955, documento pelo qual defendiam um programa para o fim do regime segregacionista.
Mandela sempre defendeu a luta pacífica contra o apartheid. Porém, sua opinião mudou em 21 de marco de 1960. Neste dia, policiais sul-africanos atiraram contra manifestantes negros, matando 69 pessoas. Este dia, conhecido como “O Massacre de Sharpeville”, fez com que Mandela passasse a defender a luta armada contra o sistema.
Em 1961, Mandela tornou-se comandante do braço armado do CNA, conhecido como "Lança da Nação". Passou a buscar ajuda financeira internacional para financiar a luta. Porém, em 1962, foi preso e condenado a cinco anos de prisão, por incentivo a greves e viagem ao exterior sem autorização. Em 1964, Mandela foi julgado novamente e condenado a prisão perpétua por planejar ações armadas.
Mandela permaneceu preso de 1964 a 1990. Neste 26 anos, tornou-se o símbolo da luta anti-apartheid na África do Sul. Mesmo na prisão, conseguiu enviar cartas para organizar e incentivar a luta pelo fim da segregação racial no país. Neste período de prisão, recebeu apoio de vários segmentos sociais e governos do mundo todo.
 Com o aumento das pressões internacionais, o então presidente da África do Sul, Frederik de Klerk solicitou, em 11 de fevereiro de 1990, a libertação de Nelson Mandela e a retirada da ilegalidade do CNA (Congresso Nacional Africano). Em 1993, Nelson Mandela e o presidente Frederik de Klerk dividiram o Prêmio Nobel da Paz, pelos esforços em acabar com a segregação racial na África do Sul.
Em 1994, Mandela tornou-se o primeiro presidente negro da África do Sul. Governou o país até 1999, sendo responsável pelo fim do regime segregacionista no país e também pela reconciliação de grupos internos.


Questões de vestibular 
1) (PUC-2008) O Apartheid foi um regime político que segregou grande parte da população sul-africana, baseado no princípio da cor da pele.
Esse regime terminou no início da década de 1990, por meio de:

A)   Uma guerra civil que irrompeu liderada por Nelson Mandela e que ameaçou a estabilidade política e econômica do país.
B) Estados Unidos e Grã-Bretanha ameaçaram invadir a África do Sul, se o poder não fosse entregue também aos cidadãos não-brancos da África do Sul.
C) Uma grave crise econômica abateu-se sobre a África do Sul, em decorrência de uma prolongada greve geral promovida pelos trabalhadores negros, que se recusaram a trabalhar nas empresas e minas sul-africanas, até que a cidadania plena lhes fosse concedida.
D) Um plebiscito, no qual a população branca da África do Sul decidiu abolir o regime e permitir que a população sul-africana não-branca também participasse da vida política de seu país. Essa ação foi motivada por fortes pressões internacionais que ameaçavam a estabilidade da economia sul-africana.
E) Uma coligação militar formada por vários países africanos, incluindo Nigéria, Tanzânia, Quênia, Angola e Moçambique, ameaçou cortar ligações econômicas com a África do Sul, caso a cidadania plena não fosse concedida a toda população.
2) (UNESP 2010) No início dos anos 1990, o presidente Frederik de Klerk declarou oficialmente o fim do apartheid na África do Sul. Esta política racista
a) prevaleceu durante toda a história independente do país e assegurou o convívio harmonioso de brancos e negros sul-africanos.
b) foi implantada após o final da Segunda Guerra Mundial e prolongou o domínio britânico sobre o país por mais cinquenta anos.
c) vigorou por mais de quarenta anos e foi um dos instrumentos da minoria branca sul-africana para se impor à maioria negra.
d) foi encerrada apesar do amplo apoio internacional e revelou a dificuldade dos africanos de solidificarem suas instituições políticas.
e) determinou o prevalecimento socioeconômico de uma elite mestiça e aprofundou as relações interraciais no país.
3. (FGV) De 1948 a 1991, vigorou na África do Sul o regime denominado apartheid. A esse respeito é correto afirmar:
a) Trata-se de uma política de segregação racial que excluía os negros da participação política, mas lhes reservava o livre direito à propriedade da terra.
b) Trata-se de uma política de segregação racial que previa uma lenta incorporação da população negra às atividades políticas do país.
c) Trata-se de uma política de segregação racial que excluía negros e asiáticos da participação política e restringia até mesmo a sua circulação pelo país.
d) Trata-se de uma política de integração racial baseada na perspectiva ideológica da mestiçagem cultural entre as diversas etnias negras.
e) Trata-se de uma política de segregação racial que propunha a eliminação gradual da minoria negra, como forma de garantir a dominação branca.
4. (ENEM 2013) Tendo encarado a besta do passado olho no olho, tendo pedido e recebido perdão e tendo feito correções, viremos agora a página – não para esquecê-lo, mas para não deixá-lo aprisionar-nos para sempre. Avancemos em direção a um futuro glorioso de uma nova sociedade sul-africana, em que as pessoas valham não em razão de irrelevâncias biológicas ou de outros estranhos atributos, mas porque são pessoas de valor infinito criadas à imagem de Deus Desmond Tutu, no encerramento da Comissão da Verdade na África do Sul. Disponível em: http://td.camara.leg.br. Acesso em 17 dez. 2012 (adaptado).
No texto, relaciona-se a consolidação da democracia na África do Sul à superação de um legado
a) populista, que favorecia a cooptação de dissidentes políticos.
b) totalitarista, que bloqueava o diálogo com os movimentos sociais.
c) segregacionista, que impedia a universalização da cidadania.
d) estagnacionista, que disseminava a pauperização social.
e) fundamentalista, que engendrava conflitos religiosos.
Atividade complementar

Leia a reportagem abaixo:

http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1758 - A verdadeira face de Nelson Mandela

Atividade: Faça uma analise do filme e compare com o momento histórico da época, discutindo também as características do personagem Nelson Mandela.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Atividade 2: Nigéria e o grupo Boku Haram

Bibliografia complementar

O jornalismo perante à África